terça-feira, 27 de agosto de 2013

Se queres empregar bem tua vida, pensa morte

“Estando embora vivos, somos a toda hora entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus apareça em nossa carne mortal.” (2 Coríntios 4:11)


O significado do antigo ditado maçônico que intitula este texto é talvez a base de todo o estudo esotérico da Via Cardíaca. Compreender a natureza da transfiguração não é um trabalho simples pois exige de nós a aceitação de verdades dolorosas que compõem não somente a parte intelectual do nosso trabalho, mas também sua parte prática.

Estas verdades dizem respeito ao maior de todos os tabus: a morte. A incompreensão deste ser-ideia tem levado o homem ao erro da vida pela vida, que o encaminha a uma existência vazia de sentido e significado, baseada e cunhada na simples valoração social. O medo da morte torna-a mistério, quando na verdade é vida e luz primordial.

O propósito de nosso santo trabalho é a obtenção de um estado puro de espírito, onde aquilo que deveria ser ceifado, foi, e de tudo sobrou apenas a alva luz do Cristo. No entanto, para este processo, tanto ser iniciado quanto continuado, é necessário que nos entreguemos a um processo de aprendizado e auto-domínio lento e contínuo que culmina na morte das paixões.


Se virmos nossa vida como um ciclo, perceberemos que a morte física é apenas um ponto no ciclo de nossa vida espiritual. No entanto, esta morte física não é a morte que buscamos já que é transitória e refere-se somente aos nossos corpos corruptíveis. Em vida, buscamos uma morte mais sutil, que lida com nossos corpos incorruptíveis e que os fortalece por ação direta da luz Divina.

Todos nós estamos, em vida, dominados pelo arquétipo das paixões: “O Diabo”. E mesmo que já tenhamos identificado em nós nossas potencialidades superiores e ponderado na balança da Justiça a nossa vida, não será o todo necessário tomar ciência de Samsara. É necessário, para que as paixões sejam dominadas, passar pela Morte.

A morte com a qual lidamos é santa. A religião Hindu a vislumbra como Kali: a Deusa mãe cujo maior poder e maior ocupação é matar os demônios e beber-lhes o sangue. Sendo esta alegoria deveras consternante para a mentalidade ocidental, ela é próxima daquela desvelada por Yeshua: é preciso que cada um de nós morra na cruz para que neste testemunho de fé morram conosco os nossos demônios.

Este processo é então a parte maior da Obra. Alquimicamente costuma-se dizer que nenhum alquimista que tente dominar as intricadas reações em seu cadinho terá sucesso se não dominar suas equivalente dentro de si. Para viver então é preciso morrer? Resposta curta: sim.

Arduamente o Estudante transforma seu caminho em uma Via Crucis: entrega sua vida à Grande Obra, morrendo, como disse o apóstolo, a toda hora. O Ego inferior, cuja vida e existência impõe a morte sobre o Eu superior não é um corpo simples contra o qual basta desferir um único golpe para que sua morte seja certeira.

Nosso trabalho é como o de Kali: matar um demônio por vez, decepando-lhe a cabeça e sorvendo deles a essência pura, o sangue de onde extraímos a matéria para construção da Pedra. O apóstolo Paulo nos escreveu:

“Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão.”
Hebreus 2:14-15

Desta forma torna-se firme o caráter e calma a mente. Livre daquele que possuía os grilhões de uma vida morta, o Estudante caminha, passo após passo, por uma estrada onde vai morrendo para si e para o mundo, iniciando uma nova vida, ressurreto, da mesma forma que o Cristo Jesus pois, fez em si a verdadeira vinda do Reparador.
Share: