Neste Universo espaço é liberdade e tempo, prisão: é possível deslocar-se no tempo, estando imóvel no espaço. Deslocar-se no espaço permanecendo imóvel no tempo, no entanto, é uma impossibilidade: o tempo sempre mantém sua marcha incessante. O espaço, vasto e ilimitado do ponto de vista do indivíduo em condição humana, em nada assemelha-se à limitação crescente imposta ao tempo de que usufruiu.
Dentre as muitas realidades que podem ser diretamente análogas ao tempo, seja por terem sua natureza diretamente dependente deste ou porque sem ele não podem completar inteiramente o seu propósito, a mais humana é aquela a que chamamos "atenção". Não porque apenas a mente humana seja capaz de exercitá-la, mas sim pelo fato de que apenas esta mostra-se capaz de produzi-la de forma endógena, orientando-a através da memória, para criar representações do mundo externo sobre as quais ela mesma trabalha e no qual enraíza sua existência. [1]
A princípio esta capacidade parece não relacionar-se diretamente à liberdade do indivíduo ou mesmo ao tempo. Esta ponderação é compreensível, uma vez que podemos propor a hipótese da mente como uma entidade preternatural cujos processos por vezes prescindem o tempo e o espaço. Consideremos, no entanto, que o estar humano (longe de ser divino), é de realidade inacabada, instável, fluida e assim é o seu pensamento que, se adotarmos a posição de Parmênides posteriormente retomada por René Descartes, equivale a sua própria existência.
Se o pensamento significa o humano e este é inacabado, instável e fluído, também deve sê-lo o pensamento e suas obras. Assim sendo, o exercício do pensamento, uma amarra inquebrável de nossa condição, só pode ser realizado dentro da prisão do tempo pois importa dele sua marcha e sua rigidez. Aquilo que anteriormente nomeamos atenção podemos agora definir como um exercício mental (consciente ou não) de tomar posse, de forma clara e vívida, de um ou mais objetos observados ou linhas de pensamento. [2]
Ora, se a atenção é o exercício através do qual a mente toma posse daquilo que observa, é somente através desta prática que pode compreender o que a cerca. É preciso praticar a atenção para que nestes objetos apreendidos possam trabalhar a razão e a intuição, no sentido de construir uma imagem interna do observado, seja ele externo ou interno.
Não diferenciam-se os observados interiores e exteriores em sua relação com o tempo. uma vez que a natureza agressiva do tempo que passa (e nunca volta), que implica a instabilidade e mutabilidade de todas as coisas e, por sua vez, a impossibilidade de que o significado apreendido das coisas corresponda as coisas mesmas (pois quando compreende, o compreendido já mudou), obriga-nos a um exercício constante e ininterrupto da atenção para ambos.
A atenção seria, pois, a forma de foco de nossas energias interiores através das quais o exercício do pensamento e do ser tornam-se possíveis. Ela é exercida no tempo e no espaço e relaciona-se com ambos, com o tempo por meio dos mecanismos acima apresentados e com o espaço por ser daí que tira os objetos sobre os quais se debruça o pensamento e, por consequência, é por meio dela que o altera.
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Referências
- PROCTOR, Robert W.; JOHNSON, Addie. Attention: Theory and practice. Thousand Oaks: Sage, 2004. 474 p.
- JAMES, William. The Principles of Psychology. New York: Holt, 1890. 1393 p. 53 v. Disponível em: <https://archive.org/details/theprinciplesofp01jameuoft>. Acesso em: 08 mar. 2018.